sábado, agosto 14, 2010

Às vezes apetecia-me bater em certas pessoas

Este é um meio muito especial, em que se fala de muitas emoções, de alegrias, tristezas e onde as pessoas gostam de saber que são compreendidas.
Muitas vezes lá se fala do bicho-papão (todos aqueles que não sabem pelo que passamos, ou que sabendo não nos compreendem).
A maior parte das pessoas que falam abertamente da infertilidade não sentem tanto medo deste bicho-papão, porque a partir do momento em que se expõem dão aos outros a oportunidade de passarem a saber do que se trata, mas mais importante ganham directo de explicar o que fazem, o que sentem e o que esperam dessas pessoas.
Posto isto, e uma vez que sou uma das pessoas que já há algum tempo "saiu do armário", como eu costumo dizer, a quem é que me apetecia bater?
Àqueles que em meios públicos onde se fala de infertilidade, àqueles que são infertéis, têm a sensibilidade do elefante por cima dos nenúfares.
Recentemente e a maior parte das vezes devido à época das férias tenho lido coisas do estilo:
  • adeus (como se a caminhada tivesse terminado sem se chegar à meta)
  • vou deixar-vos (isto no fórum da gravidez...o que se pensa? provavelmente serei eu que sou assim, mas pensei em aborto)
  • por vezes são frases sobre que mais vale desistir
  • que a vida não faz sentido

Ora neste meio virtual, em que todos de uma forma ou outra estamos fragilizados estas frases são levadas a sério.

O tema é sério, claro que se pode brincar...mas com tacto.

Depois invariavelmente surge uma de duas respostas: ahhh pensavam que eu tinha desistido dos tratamentos? Nada disso...vou de férias...

Ou, sim estou cansada, mas claro que vou continuar nem fazia sentido desistir...

Mas afinal o que vem a ser isto?

Andam essas auto-estimas tão em baixo, que precisam de ver que dum momento para o outro surgem 923743245284 respostas a um post?

Que bom, tenho tantos amigos? Mas era preciso um post para contabilizá-los? ...

Pronto desabafei!

terça-feira, agosto 10, 2010

10 de Agosto

Há dias na nossa vida que não se esquecem, e que por mais que tentemos…carregam um peso tão grande que deixam marcas difíceis de apagar.
O dia 10 de Agosto de 2009 ficou no grupo desses dias.

Na véspera, dia em que fiz 7 anos de namoro, fiz um teste de farmácia…negativo.
Foi a indicação que me devia preparar para o dia seguinte.
No entanto o tratamento tinha sido tão estranho e terminado de forma tão satisfatória que todos acreditámos ser possível.

No entanto, só a Fé não chega, e o negativo confirmou-se.

Entretanto que foi feito neste ano?

- apesar de não pensar voltar ao público, eis que estou em Gaia, onde me vai ser permitido fazer um único tratamento
- fiz exames que nunca me foram pedidos no passado, e parece que o meu útero está bom
- o meu organismo anda mais certinho, se bem que isso não signifique que ovule e portanto as tentativas sem tratamento não têm tido sucesso
- decidi começar um curso que fui adiando ano após ano, e que neste momento está a 2/3 do fim
- continuo com todos os projectos anteriores
- achei que ficaria mais calma, mas a ideia de fazer UM tratamento anda a stressar-me, espero vir a encontrar a calma do anterior que também seria o meu último
- a lista para adopção que estava em 5 anos e 10 meses, passou para quase 7 anos

E pronto tentamos manter a cabeça erguida e a funcionar.
O projecto de mudar de local de trabalho está em stand-by porque não surgiu ainda nenhuma oportunidade apelativa.

segunda-feira, agosto 09, 2010

Uma semana emotiva

A semana passada estive de férias, foi uma semana “diferente”, e muito emotiva.

A segunda-feira foi passada em limpezas e mais limpezas valeu o tempo ligeiramente fresco, mas podia ainda estar mais para a menina não se cansar tanto.

Na terça-feira fui com outra amiga tomar o pequeno-almoço com um casal lindo que aguardava pelo resultado da beta.
Enquanto eles foram para o consultório saber o veredicto, as duas ficámos no café. Falámos e falámos quase duas horas, mas o nervosismo estava lá.
Eis que eles regressam, e logo de início não consigo ver na cara dele o resultado, mas quando a vejo…bem quando a vejo…deixei quase de ver…snif snif…que alegria.
Seguiu-se um almoço a quatro, com muita alegria.
Nesse mesmo dia fui buscar a sobrinha e mãe, e contei à sobrinha que aquela amiga da tia estava grávida (ela conheceu-os no verão passado num dos meus lanches e adorou o futuro papá).
“Que bom tia, ele gosta tanto de crianças”.
Gosta mesmo, e com o jeitinho que têm serão óptimos pais.

Quarta-feira foi passada por casa, muita wii, alguns trabalhos de casa, um passeio pelo parque, muito e muito mimo, soube tão bem.

Quinta-feira, seguiu-se a rotina de quarta e tivemos ainda um lanche em casa com umas amigas, e mais duas crianças.
Um dia calmito, mas com um início de noite triste, com o negativo duma amiga de caminhada. Esta luta por vezes é tão inglória, que ficamos sem palavras.
Ninguém devia passar por tanto para ter o que para outros é tão fácil.

Sexta-feira fomos ao Sea Life, fiquei um bocadinho desapontada com o tamanho do espaço.
Foi uma tarde bem passada, mas tão curtinha…
Desconsolada arrastei toda a gente para um centro comercial e fomos atrás de livros: )))
À noite fomos francesinhar e a minha sobrinha (a mesma que nesta semana de Agosto há 8 anos, aprendia a andar com a tia) provou a sua primeira francesinha… estou velha: )))

Sábado fomos à feira do artesanato a Vila do Conde.
Estava lá o sr da Marinha Grande que já tinha feito um cavalinho em vidro para a tia, e a tia pediu um para a sobrinha.
Foi engraçado ver a reacção dela a ver o cavalo a ser feito.
Depois participou num workshop de Raku, uma técnica de vidragem de olaria, e adorou…bem, também teve alguma sorte já que a peça dela foi uma das que não rebentou no forno: )))

Domingo começou a bater a saudade, fomos à missa, almoçámos e ficámos por casa.
Fui levá-las ao comboio, coloquei as malas nos lugares e vim para a gare com a minha mãe, enquanto fazíamos horas.
Não houve aviso na gare que o comboio ia partir…mas partiu…com sobrinha e sem mãe…
Foi um sufoco, corri até à bilheteira, comprei novos bilhetes, e conseguiu saber que a menina tinha saído pelas mãos do revisor em Gaia onde estava na bilheteira à nossa espera.
Pegámos no carro e lá fomos nós para Gaia numa aflição.
Por mais que soubéssemos que ela estava bem, só o facto de imaginarmos como se estaria a sentir foi aflitivo.
E eis que uma hora depois lá embarcaram as duas rumo a casa.

A tia ficou de rastos, super-cansada e sem vontade nenhuma de regressar ao trabalho.
Mas as próximas três semanas serão mesmo a trabalhar, gostemos ou não.

8 anos de namoro

Faz hoje oito anos que estava em casa de férias.
O “rapazito” que tinha conhecido há dois meses tinha decidido ir passar o fim-de-semana a Lisboa, para estar comigo.

As saídas que tivemos, os telefonemas, sms estavam a produzir efeito e já estava ansiosa com a chegada dele.
E eis que quando chegou demos timidamente o nosso primeiro beijo.
Estava iniciado o namoro que dura há oito anos.

Parabéns para nós.

Feliz pelos outros

ACASO - Antoine de Saint-Exupéry

"Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso. "



Um dia num dos muitos lanches que organizei inscreveu-se uma menina cujo nick não correspondia ao nome e que se descreveu de modo a que eu a pudesse identificar no lanche.

Uma das coisas que me chamou mais a atenção foi a sua alegria e sentido de humor. Como sempre ouvi dizer devemos ser os primeiros a brincar com as nossas fragilidades, e realmente ao fazê-lo deixou-me completamente estarrecida e à vontade.

Não sei há quanto tempo a conheço, mas há mais dum ano.
Além dos lanches alargados, entrou para o grupo de apoio, e ainda combinámos uns lanchinhos mais intimistas, que nos aproximaram e permitiram que acompanhássemos as nossas caminhadas.

Esta amiga chegou ao seu último tratamento tendo decidido não recorrer a mais nenhum hospital caso o tratamento não resultasse.

Calhou que na semana passada eu estivesse de férias, calhou que tivesse tido a oportunidade de juntamente com outra amiga tivéssemos tido a oportunidade de estar com ela no dia da beta.

O derradeiro tratamento foi positivo e não consigo descrever o que senti, senti-me a transbordar de alegria e completamente nas nuvens.
Não foi o meu positivo, mas foi quase tão desejado como se fosse meu.

Desejo a estes futuros pais toda a sorte do mundo, que continuem a ser como são, pois o vosso filho (a) só irá ganhar com isso.

Muitos parabéns, a minha família está a ficar cada vez maior.