quinta-feira, fevereiro 24, 2011

Vamos a reunião

Sempre me acusaram de falar de mais, mas há coisas que me stressam tanto que ou falo ou sinto-me mal.

Na primeira consulta que tive foi-me dito que só poderia fazer um tratamento, e que se fosse negativo tinha alta.

Hoje fui atendida pelo meu médico-favorito, que por não ter o meu processo no gabinete perguntou: quantos tratamentos já fez e quer fazer mais?

Ora, na realidade só fiz um e até parecia fácil dizer: só fiz um e claro que quero fazer mais.
Mas apoderou-se de mim uma ansiedade, se ele marca novo tratamento, e a minha médica (superior dele) não concordar acabo por perder meses de espera desnecessariamente.

Assim, contei que apesar de só ter feito um, que a minha médica afirmou que se eu tivesse negativo tinha alta.
Ora…uma bioquímica não é negativo, nunca tive tão perto do meu sonho, apenas tenho 37 anos e quero muito que me permitam uma 2ª oportunidade.
Sou nova para desistir já, e por outro lado não tenho hipótese de tentar noutro centro público.

O médico decidiu marcar consulta para a minha médica, para Abril, mas que a decisão seria dela. Ela podia não permitir mais tratamento…

Questionei se o caso não era levado a alguma reunião de equipa (não lhe contei, mas eu sabia que para a semana há reunião). Ele disse que era uma óptima ideia, porque salvaguardava a posição dele e poderia ser benéfico para mim.

E foi assim que trouxe uma marcação para Abril, e ficou o registo de novo tratamento para o verão.
Se a reunião correr bem volto à consulta, se correr mal os serviços contactam-me a dizer que tenho alta.

Sinto-me “parva” por falar demais, mas lido tão mal com a mentira/omissão, que acho que vou ficar mais tranquila, e se as coisas correrem mesmo mal ainda em Março tenho a resposta.

Despedi-me confiante, e pedi para não me deixar “morrer na praia”.

terça-feira, fevereiro 15, 2011

Não desista, não desista, não desistas

Há medida que o tempo passa e mais tratamentos são feitos, maior é o apoio.
É curioso porque pensei que desta vez me dissessem: tem lá juízo e pára, mas não.

Há no entanto 3 encorajamentos que me tocaram de forma especial.

Durante o ano passado falei com uma colega sem filhos, que podia ser minha mãe, sobre os tratamentos.
A senhora é contra as manipulações à natureza, que não devemos tentar a sorte…

Sexta veio cumprimentar-me, sem palavras, apenas dar um beijinho. E despede-se com um: reaja e não desista.
Fiquei muito sensibilizada vindo de quem veio e sabendo o que pensa sobre os tratamentos.

Ontem à tarde tive duas visitas seguidas.
Uma colega que foi mãe após dois abortos, e por tratamento: por favor não desista, por muito que tenha de passar acredite que a recompensa vale tudo.
Emocionou-se e emocionou-me.


De seguida entra outra colega que veio ver como estava, também ela fez tratamentos e desistiu: agora tens de recuperar e voltar à luta, tu não desistas, porque depois podes querer voltar e ser tarde demais.

Decididamente recebemos na medida em que damos.
Há muito que decidi falar abertamente sobre a minha doença, e com o tempo e resposta a todas as perguntas as pessoas vão sabendo o que está em jogo.
Sabendo ou não na pele o que são tratamentos, o apoio surge, e neste tratamento foi ainda mais visível que nos anteriores.

Não estava a pensar desistir, pelo menos para já. Mas se estivesse teríamos agora uma menina a pensar e muito.
A vida sem filhos que não foi por opção e a recompensa de ter um filho muito desejado levam mulheres completamente distintas a querer que este meu sonho se realize, e dá-me confiança: vou conseguir.

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Sobre a adopção

Em resposta a um comentário ao meu post anterior aqui fica a resposta sobre adopção.

Existem várias formas de entender a maternidade, uns casais entendem que a maternidade poder ser pelas duas vias, outros só por uma das vias, outros que entendem a adopção apenas quando todas as hipóteses estiverem esgotadas.

No meu caso a adopção é o plano B, mas recusei-me a esgotar a via biológica. Assim que fiz os 4 anos de casada que a lei obriga inscrevemo-nos, foi há dois anos e meio.
Ainda continuo em tratamentos, e se conseguir ter um filho biológico espero poder ter o meu 2º filho por via da adopção.

Mas a adopção não é a panaceia dos casais inférteis. Não só porque para muitos a adopção não passa pela forma como encaram a vida, como por outro lado não é resposta imediata ao desejo de ter um filho.
Se pegassem em todas as crianças que estão em instituições (e nem todas podem ser adoptadas), não seriam suficientes para todos os casais.
Existirão em média 700 crianças em todo o país para serem adoptadas, mas só no Distrito do Porto estarão cerca de 700 candidatos em espera.
As listas de espera em Lisboa e Porto rondam os 7 anos. Assim, um casal casa e espera 4 anos porque a lei não o deixa adoptar antes, e depois espera mais uns 7 anos.

Além disso há casais para quem a adopção não se coloca, e muito sinceramente, acho que se os dois estiverem de acordo, são os que mais facilmente aceitarão não ter filhos.
Eu vou adoptar, e dei esse passo em frente apenas por um motivo: quero ser mãe seja de que forma for.

O rescaldo

Até ao momento fiz 3 betas em 6 tratamentos. Não contabilizo todos os tratamentos feitos apenas com comprimidos, nem as tentativas de gravidez espontânea com recurso a testes de farmácia.
As betas trazem consigo um extra de ansiedade, a recolha é feita logo pela manhã, mas o resultado demora horas a chegar, e no meu caso tem sido sempre um mau resultado.
No imediato segue-se o choro, as sms a avisar do resultado, e uma noite muito mal dormida em que tento esquecer este não que a vida me deu, mas sem sucesso.

O pior dia nunca é o do negativo, a adrenalina desse dia faz com que no geral consiga aguentar “bem”, e o choro conforta-me até acabar por ser vencida pelo cansaço e adormecer.
O passo seguinte é a chegada do período, a marca definitiva do fim de mais um ciclo sem o sucesso pretendido.
Mais ou menos doloroso este dia traz-me de volta à realidade. Digamos que entre a beta e o período ando meio anestesiada.
Desta vez não foi diferente, ou melhor até foi mas para pior.
A notícia de ter sido uma bioquímica levou-me a ainda esperar um milagre, afinal desta vez até houve algum entendimento entre o embrião e o útero, e só ontem consegui render-me à evidência.

Estes dias têm sido a pensar mais no mesmo e sempre com questões novas, chegando ao cúmulo de dar várias interpretações para o mesmo facto.

- se tivesse tomado aspirina ou corticóides teria ajudado nesta bioquímica?
- se não tivesse tido aqueles problemas todos antes do tratamento teria conseguido?
- por quanto tempo mais conseguirei ter ovócitos capazes de serem microinjectados, já que de 11 apenas tive 2 embriões, dos quais apenas um foi aproveitado?
- será que a médica se vai lembrar que me disse que apenas podia fazer um tratamento? Já deu para perceber que nem sempre se lembra do que disse, o que me dá alguma esperança.
- Porque motivo emagreci um kilo neste tratamento? Sim, em vez do habitual aumento de dois kilos, neste perdi um kilo. Comecei a pílula com 67, na estimulação ia com 66,5, punção com 66 e no dia da beta 65,5, recuperando os 66 com a vinda do período.
- o facto de ter feito caminhadas no repouso terá efectivamente ajudado na implantação? Sim, porque não fui trabalhar, mas liguei a passadeira em casa para sem apanhar frio caminhar lentamente como me tinham recomendado.

Outras questões acabarão por surgir porque a nossa cabeça não pára e guarda todas as dúvidas para um dia atirar cá para fora e colocar-nos a pensar.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

43 - Um novo fim, um novo recomeço

Exactamente um ano e meio depois da última beta tenho o mesmo resultado: negativo.
No último foi de 2, agora de 6,2 (um fraco positivo, talvez uma bioquímica).

Foi um tratamento estranho este.
Uma infecção, uma virose, uma constipação foram os preparativos.
Depois de o ter começado tive nova constipação.

Os ovários pararam como suposto, a estimulação também.
A colheita foi de 11 folículos, dos quais apenas 6 estavam maduros, e uma vez microinjectados, só um foi transferido.

Esse um tinha tudo para ser o campeão, oito células ao terceiro dia, transferido sozinho para não ser influenciado por más companhias.

Fiz o que me disseram para fazer, excepto o regresso ao trabalho.
Evitei os esforços abdominais, caminhei (sim em repouso, como me disseram), andei sempre animada quase até à beta.

Apesar de ser a minha 6ª ICSI, só tive 3 transferências. Cada uma melhor que a outra, um 4B na primeira, dois 6B na segunda, e finalmente um 8.

Não consigo explicar ou até entender, como é possível que em cada repouso consiga recuperar a "ingenuidade" e fé, a ponto de acreditar cada vez mais.
Mas, quanto mais acreditamos, pior é a queda.
Há o consolo, não posso dizer que não, de ter chegado mais longe que nunca, a continuar assim um dia consigo.

Agora é fazer o que mais me custa: desligar os alarmes do telemóvel e arrumar a medicação.

Dia 24 iria fazer a eco, assim vou ter consulta.
A minha médica sempre disse que só tinha direito a um tratamento, dado o meu caso clínico.
A médica que me deu a notícia disse: fale com a Dra. porque afinal foi uma bioquímica....
Quem sabe? digo eu.

Nesse dia decido o que fazer, ou tenho mais uma hipótese este ano lá, ou parto para o privado.
Para a derradeira tentativa.

Quero agradecer a toda a gente que me acompanhou, sem vocês esta viagem teria sido muito mais difícil, não teria acreditado tanto, e se calhar não tinha chegado tão longe.

Quero agradecer ao pessimista que acreditou, vou precisar muito que voltes a acreditar e que me leves a acreditar também, juntos conseguimos.

terça-feira, fevereiro 08, 2011

41 - a visita de duas amigas

A vida traz-nos muitas coisas, infelizmente nem todas são boas.
Mas mesmo essas menos boas podem ser acompanhadas de grandes dádivas.

A melhor de todas é a amizade.

E esta "coisa da infertilidade" trouxe-me muitas coisas boas, uma capacidade de resistência, mais paciência, mais união com o meu marido, e muitas amizades.

Há duas meninas que conheci nos "meus lanches" que têm sido presença constante.
Hoje uma delas veio ao Porto, e toca de perguntar se quero encontrar-me com ela.
Não me apetecia, mas há que contrariar o isolamento, e estar com quem gosta de nós acaba por nos fazer bem.
Disse que sim, e eis que as duas meninas acabam por vir a minha casa, almoçámos e sairam após quase 6 horas.

O tempo não passa quando a companhia é boa, e o sentimento não passa quando é forte.

Desde ontem que estou apreensiva, e a ficar pessimista.
Custa cada vez mais afastar os maus pensamentos.
Mas duas amigas assim, fazem verdadeiros milagres.

Agora é deixar passar mais dois dias, e esperar que ambas tenham razão no seu prognóstico;)

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

37º dia - uma semana após transferência

Passaram-se oito dias deste a transferência.
Tenho estado por casa a tentar abstrair-me do tratamento, lendo e passeando pelo pc.

Descobri que tinha imensos livros comprados em vários anos, nas diversas feiras do livro, ainda por estrear.
De modo a evitar histórias lamechas que puxem pelos sentimentos, tenho-me dedicado a romances históricos da nossa monarquia.

Os dias têm estado muito bonitos, o que me faz manter o ânimo. No entanto muito, mas muito frios.
Eu bem sabia que a manta com mangas ia ser a minha melhor amiga, mas agora o que dava mesmo jeito era um "baby-grow" gigante. Isso mesmo, com pézinhos e tudo.

As dores da punção mantiveram-se até segunda-feira, aliadas a alguma prisão de ventre que me trouxe umas belas cólicas.
Depois do ataque cerrado à prisão de ventre consegui melhorar bastante no fds e deixar de ter cólicas.

Quarta ao fim do dia senti algumas fisgadas nos ovários, tipo choques eléctricos, mas muito pontuais, ontem tive algumas dores e ao fim do dia uma pressão que não entendi ser bexiga ou útero. De noite não tive dores, mas hoje ao levantar apesar de não ter dores voltei a sentir a mesma pressão.

Vou estar atenta e reforçar o consumo de água e sumos de citrinos, mas espero que não seja nada demais.

Já só falta uma semana para saber o veredicto. Sei que a próxima semana será mais stressante, mas tentarei manter a mesma calma.