segunda-feira, junho 22, 2009

Dificuldades da Infertilidade

Olá a todos,

Às vezes penso: quando é que começou esta vontade de ser mãe.É estranho, mas não consigo localizar no tempo ou no espaço. Será que alguém consegue?

Lembro-me das bonecas, de pensar nelas como filhas. Lembro-me desde sempre de me imaginar com filhos, e porque haveria de ser de maneira diferente?É um sonho de qualquer criança.

Ontem ao olhar para uma bebé, que carregava a sua bebé pensei: será que este sonho vem desde esta idade? É muito provável, as recordações que tenho mais antigas vão aos meus 3 anos e meio com o nascimento da minha irmã, e já nessa altura em pensava nos meus filhos (bonecos é certo, mas filhos).

Mas será que quem nos conhece, quem vai sabendo do nosso percurso para alcançar este sonho sabe o que nos vai na alma? O que sofremos? O que esperamos ou não ouvir?Cada vez me convenço mais que não, não sabem.

E em grande parte a culpa é nossa. Se queremos passar uma mensagem temos de o fazer em condições, não nos podemos esconder, não podemos usar de meias palavras, temos de ser claros e directos.

Os nossos amigos por melhor intencionados que sejam, se não passaram por esta dor na pele não sabem a que nos referimos, somos verdadeiros extra-terrestres…Ainda que possam dizer: sei bem o que sentes.

Há algum tempo uma amiga dizia, sei o que é isso tenho uma amiga que também teve de tomar uns comprimidos e levar umas injecções.
Esta é a parte mais fácil de qualquer tratamento.É incrível que quando referi no fórum o pavor que tinha de agulhas me tenham dito, vais ver que é a parte mais fácil…E como tinham razão.

Mas então que é que é tão difícil nesta doença?

- é projectarmos a nossa vida e vermos que não somos donos nem senhores dela
- é vermos as partidas que o nosso corpo ciclo após ciclo, ano após ano nos faz
- é andarmos a fazer "remendos" para colmatar uma falha e descobrirmos mais duas ou três
- é sofrermos em silêncio porque não queremos sentir-nos diminuídos, e que ninguém compreende a forma como reagimos
- é abrirmos o coração e sentirmo-nos extra-terrestres, ou virmos a nossa vida devassada
- é estarmos em tratamento e perguntarem 2/3 vezes por dia como nos sentimos. A falta de lembrança deixa-nos tristes, mas a pressão ao segundo sufoca-nos
- é tentarmos ir para o 2º, 3º, 4º…tratamento com a Fé do primeiro
- é vermos tanta gente a ter filhos e a desprezá-los
- é vermos os nossos entes queridos a quererem ajudar-nos e sentirem-se impotentes
- é tentarmos manter um casamento saudável, quando nos sentimos doentes
- é vermos todos os "entendidos de circunstância" darem-nos palpites
- é vermos que todos à nossa volta sabem o que estamos a passar, sem nunca o terem passado. Como posso eu saber a dor de partir uma perna, se nunca na minha vida passei por isso?
- é termos um percurso de infertilidade de anos, termos tido momentos de pressão mas também momentos de pura descontração e dizerem-nos: relaxa…vai de férias… Será que acreditam que nestes anos todos, esse momento ainda não aconteceu? Antes de sabermos que éramos inférteis já éramos stressados?
- é adiarmos projectos por causa de um tratamento
- é contarmos os trocos para ver se podemos tentar de novo
- é ficarmos a pensar nos rios de dinheiro que gastámos
- é não sabermos quando esta história irá acabar e qual será o seu final (sendo que todos adoramos finais felizes)

E pronto, desabafei.Muito mais haveria para acrescentar à lista.

4 comentários:

Gato(a) disse...

Querida, como me revejo em cada palavra que escreveste.
Hoje tal como tu não me sinto nos melhores dias.
Quem sabe amanhã será melhor.....
Bjinho grande carregado de força e esperança

Tânia disse...

Não tenho dúvida que a forma como te expressaste aqui revela ser aquilo que acredito que todos os casais que sofrem de infertilidade sentem...
Só espero que um dia consigamos ultrapassar estas dificuldades e alcançar o nosso sonho...
Beijos
Muita força e muita fé...

Lis disse...

"Como posso eu saber a dor de partir uma perna, se nunca na minha vida passei por isso?" - que engraçado, eu também costumo dizer isto, com um exemplo muito parecido!

Maruja disse...

Minha querida,
Como com qualquer doença, viver com a infertilidade não é fácil. Eu, hoje, passados quase 3 anos, começo a abrir-me com as pessoas sobre o assunto. Porque até aqui, acho que nem aceitava a doença...
Para muita pena minha, nunca poderia estar presente numa caminhada pela infertilidade, quando a minha mãe ainda não conhece a história completa do meu percurso. E por essa razão também não condeno as centenas de pessoas que passam pelo fórum, mas ficam-se pela penumbra. Temos que dar tempo ao tempo.
Lá chegar ao dia que as caminhadas da APF vão chegar ao milhar de participantes - espero que a maioria acompanhados já dos seus filhotes!
Agradeço-te a ti, e a todos que, a favor de mim, assumem a infertilidade!
Uma beijoca grande

PS - Desculpa o longo "testamento"