sexta-feira, maio 25, 2012

Retalhos da vida

Aqui deixo o link do novo blog, poderão ver que ainda vai atrasado. http://retalhos-da-nossa-vida.blogspot.com
Tentarei nos intervalos preencher com a experiência dos últimos dias.

Tenho tido vários pedidos de fotos da Helena, mas o conselho de pais decidiu não partilhar fotos nas redes sociais.
Posso apenas dizer que é linda...ou não fosse a mãe a dizê-lo;)

sábado, maio 05, 2012

Da infertilidade à maternidade

A infertilidade bate-nos à porta de forma mais ou menos surpreendente.


Na maioria das vezes na sequência de várias tentativas de gravidez, mas algumas vezes devido a um problema de saúde sempre se soube da sua presença.
No meu caso não foi nenhuma destas situações.
Ainda nos encontrávamos a pensar em engravidar, a fazer os primeiros exames, quando a médica que me ia seguir decidiu fazer exames aos dois. Segundo ela, e devido a alguns problemas de saúde que eu já tinha, não devíamos perder tempo.
E foi assim que descobrimos que nem tudo estava bem para seguirmos com este projecto. Havia problemas de ambos os lados e tínhamos um longo período pela frente.


Foi em Outubro de 2005 que tivémos a primeira consulta, e em Abril de 2006 foi-nos dito que a melhor hipótese era a FIV. 
Nessa altura deram-nos 6 meses para ponderarmos se queríamos avançar.
Um ano após a primeira consulta, em Outubro de 2006 decidimos avançar, nem a estimulação hormonal feita nos 6 meses anteriores, nem as férias, o relaxamento trouxeram a tão desejada gravidez por isso tínhamos de dar o passo em frente.
Foi nessa altura que me debrucei sobre este incrível mundo novo. 
Criei o meu blog, com o intuito de desabafar sobre a minha caminhada, mas logo soube que não estava só. Aliás descobri a então API (Associação Portuguesa de Infertilidade) hoje APFertilidade e fui-me inteirando sobre o que me esperava.
Entretanto e como me foi diagnosticado um problema na tiróide, só em Maio de 2007 estaria em condições de iniciar o primeiro tratamento.
Tanta ansiedade, tanto pavor de agulhas, tanta fita para espetar a barriga.
E depois a 1ª ecografia, o receio de ver o tratamento cancelado, mas estava tudo a correr como pretendido.
Na 2ª ecografia, já mais relaxada vejo o meu tratamento cancelado. 
Foi um balde de água fria, afinal as dores que eu sentia eram sinónimo de hiperstimulação e uma vez que só tinha um folículo não iríamos avançar para a punção.


Passados 3 meses, já com o organismo limpo, julguei que iríamos iniciar o 2º tratamento, e fui confrontada com outro volte-face, ou fazia um drilling ovárico ou não poderia fazer mais tratamentos naquele hospital.
Entre a espada e a parede não hesitei, e em Dezembro de 2007 faria o drilling.


Iniciámos 2008 com esperança renovada, e o tratamento de Fevereiro estava a correr bem, a punção correu como previsto, mas no dia da transferência ligam-me para não ir à clínica. 
Pediram-me mais 24 horas, e no dia seguinte ligaram a dizer que afinal nem assim se deu a fecundação.
O nosso caso teve de ser avaliado em reunião de médicos, para decidirem se valia a pena continuarem a "investir" (foi esta a palavra transmitida) em nós.
E a decisão foi positiva, pelo que em Junho de 2008 fizémos novo tratamento. Desta vez com direito a punção e transferência, embora apenas dum único embrião um 4B.
Na véspera da beta fiz um teste em casa que antecipou o meu 1º negativo.


Novembro de 2008 mudámos a medicação e este mostra ser um tratamento com muitos folículos, mas já é velha a máxima que diz que quantidade não é qualidade.
Nunca foram tantos folículos puncionados, e para no final não se conseguirem aproveitar. Mais um tratamento que não chegou à transferência.
A médica decide marcar o novo e derradeiro tratamento para Março de 2009, e eu recuso-me.Estou cansada, muito cansada. 
Não consigo continuar a viver em função de tratamentos a cada 3 meses.
2008 foi um ano muito duro a esse nível e preciso de espaço e tempo para mim, peço para parar por 6 meses.


Retomaria os tratamentos em Julho de 2009, mais calma, com tratamento de acupunctura em paralelo.Foi o tratamento mais estranho que tive. 
Num dia parecia que ia ser cancelado, no outro o meu organismo decidia reagir.Houve punção, houve transferência de 2 embriões 6B, e houve desilusão no dia da beta (nossa e da médica, que estava convencida que aquele era O tratamento).
E foi o derradeiro tratamento naquele hospital, por ser o 4º (apenas se contam os que tiveram punção) tive alta nesse mesmo dia.


Após este novo negativo decidi marcar consulta no privado.
Adorei a forma como fui tratada e mais ainda os conselhos dados: pela minha idade ainda seria possível tentar de novo um hospital público, e que se o meu organismo tinha conseguido dois embriões no tratamento anterior então nada estava perdido.


Novembro de 2009 faço o pedido no 2º hospital.
Sou chamada em Fevereiro de 2010. 
Exames, análises, consulta de nutrição, consulta de psicologia...o tempo a rolar...Inicio o tratamento no dia 31 de Dezembro de 2010.
Quero acreditar que 2011 será o meu ano!
Nova medicação, resposta semelhante, mas consigo pela primeira vez um embrião de 8 células, e um de 5. Só o de 8 é transferido.
A beta mostra uma bioquímica e é-me dito para parar a medicação.A médica que me seguia diz que apenas posso fazer um tratamento, se for negativo terei alta.
Com outro médico consigo que o meu caso vá a reunião de médicos, afinal foi uma bioquímica...não um negativo.
Na consulta seguinte tenho a minha resposta: vai fazer mais um tratamento, mas apenas um! Seja qual for o resultado será o último.


Junho de 2011 começo o meu último tratamento. 
Evito pensar que poderá ser o último.A manutenção da mesma medicação do anterior dá-me alento, além disso sempre preferi tratamentos nesta altura do ano. Vai ser desta...Mas não foi, o único embrião que tive não podia ser transferido.
Estou com 38 anos, não me adianta tentar outro hospital público, pelo que no dia do cancelamento marco consulta para o privado. 


Passaram-se dois anos desde que tive alta do outro hospital e apenas fiz mais dois tratamentos, preciso de saber o que se segue.
Nisto da infertilidade, bem como noutras doenças, nem sempre os médicos sabem o que se passa. 
Nem sempre conseguem prever o que virá a seguir, nem quando e muito menos o porquê...
A 3 de Setembro de 2011 descubro que estou grávida, e sem ter feito qualquer tipo de tratamento.
Tanta luta, dor e investimento físico, emocional e financeiro para sem que nada o fizesse prever engravidar de forma natural.


2011 tornou-se o meu ano, não da forma como eu tinha previsto, mas de uma forma ainda mais deliciosa, não tivesse havido o sabor amargo de dois tratamentos sem sucesso.Seis anos após a primeira consulta estou grávida.


Os tempos de espera passam a ser outros, desta vez rumo à maternidade.Um dia de cada vez, pé ante pé, mas acreditando sempre que é possível.

Hoje tenho a minha filha comigo, terminaram os TEMPOS DE ESPERA.
Quer os tempos de espera para a gravidez, quer os tempos de espera para a maternidade.



Este blog cumpriu a sua missão. 
Servir de diário de bordo, ajudar-me a manter a cabeça à tona da água, desabafar e encontrar apoio numa caminhada que previ ser longa.
Mas, eis que chegámos ao fim.
Não faz sentido manter um blog que fala dos tempos em que esperamos obter algo.
Esse dia já chegou, foi o dia mais feliz da minha vida, e a cada dia que passa a felicidade aumenta.

Tenho um novo amor na minha vida, 50cm de gente, uma pluma de 3kg mas que enche os meus dias e noites e me faz dizer: valeu a pena.



O nosso dia-a-dia tem um novo Raio de Sol, que nos alegra os dias e aquece o coração.
Não esperamos mais.
Ainda que venhamos a esperar por um novo filho a meta foi atingida: sou mãe.

Sempre disse: vou ser mãe, só ainda não sei quando nem como.

Pois bem, Sou Mãe, desde o dia 5 de Maio que a minha vida ficou muito mais luminosa.



Brevemente darei a conhecer o meu novo blog, sim, porque a vida continua, as histórias também e 6 anos não se apagam da vida de ninguém.

O parto

O dia começou bem cedo, às 8 estávamos a chegar à maternidade, éramos os únicos. 
Pediram-nos para aguardar, acabaria por chegar mais uma senhora perto das 8:30 e às 9:00 estávamos a subir para a indução. 

As duas fomos para a sala das expectantes, ligadas ao CTG onde já se encontrava outra senhora. 
Vistas por médicos, toques feitos, início da indução, as duas sem nenhuma dilatação... perto do meio dia falam-nos em almoço. Almoço????Como almoço??? 
Bem, isto está demorado e as senhoras vão ter de almoçar... 

Depois de almoço iniciou-se a maratona, corredor acima, corredor a baixo... 
Quase duas horas depois voltámos à sala... novos toques...dilatação 1 dedo..., novo toque desta vez com alinhamento do colo do útero... 
Uiiii (palavra que melhor define esse momento). 

Pelas 15 começam as contracções. 
Pelas 16 pergunto à médica quando começo o antibiótico..o tal que precisava de ser administrado 4 horas antes do parto... 
Ahh e tal, ainda deve ser cedo, lá por ter contracções isso não quer dizer nada...ainda pode ter de jantar... 
Mas depois de ler o CTG deu instruções para início de antibiótico. 
Parceira da cama 8 geme muito, parceira da cama 10 pede ajuda para dores...quando eu fui pedir o antibiótico e drogas...nessa altura MUITAS DROGAS, iniciei as drogas, e só às 17 o antibiótico. 

17:10 "vou tentar arranjar uma sala de partos para si...mas isto hoje está de loucos...com a lua..." 
"Já temos sala, entramos às 18". 

18 horas a coisa adensa-se, contracções mais regulares, menos espaçadas e mais intensas... 
"Vou tentar arranjar nova sala..." (a minha tinha ido para uma cesariana). 

Nova sala, anestesista chega atrasada...dá-me epidural e começo com tremores incontroláveis...quase 20m depois a epidural devia estar a fazer efeito e não fazia. Não me davam a 2ª parte com receio...mas lá estabilizei e tive a 2ª dose. 
Era preciso aguentar até às 21 para levar a 2ª dose de antibiótico....ou pelo menos 20:30. 
19:40 novo toque "mas não vamos rebentar as águas, para tentar chegar às 21..." 
Levantei as pernas e disse à médica: as águas... 
"Não se preocupe não vamos fazer isso já" 
Nem precisam...já está... 

Não podia levar a 2ª dose porque não ia fazer efeito, receei pela minha filha. 

"Estivemos consigo todo o dia, o nosso turno vai acabar e esta menina vai nascer agora" 
O problema foi que eu não consegui encher o peito completamente de ar e fazer força na intensidade que queriam. 
A meio caminho já estava de rastos... 
Apesar do períneo parecer bem tive de levar corte e depois ainda lacerei um pouco. 
Mais de 20 espetadelas senti eu nos pontos...epidural tinha deixado de fazer efeito, anestesistas estavam com partos complicados... 

Mas, a minha filha já cá estava. 
Eram 20:14, não lhe contei dedos, não me preocupei com isso como toda a gente diz que faz. 
Olhei bem para ela, chorou, ouvi as enfermeiras dizer como ela estava a portar-se bem, e tranquilizei-me. Índice Apgar 9/10. 

Pegou bem na mamoca da mãe, apesar dos mamilos grandes e boca pequena...o pior viria depois, mas isso já não faz parte da minha gravidez. 

Essa terminou às 20:14 do dia 5 de Maio de 2012, véspera do dia da mãe. 

Vou ser mãe, não sei quando nem como. 
Sou mãe, desde o dia 5 de Maio de 2012, de parto natural numa gravidez milagrosa e espontânea. 

Que todas possam passar pelo mesmo. 

sexta-feira, maio 04, 2012

40 semanas e 3 dias


Estamos a horas do check-in no hotel.
Se ela não se decidir entretanto, amanhã pelas 8 horas darei entrada na maternidade para indução do parto.

Já tentei todas as sugestões que me deram e nada...cá continuamos por casa a fazer tempo.

Foi a experiência mais rica da minha vida, e espero amanhã poder finalmente ver a minha filha tantas vezes sonhada e muito desejada.

Fez ontem 8 meses que tive o meu primeiro positivo.
Foi uma caminhada longa, feita a medo, mas que se tornou a cada dia que passou mais saborosa.

Enquanto grávida não tenho muito que me queixar, dos sintomas só tive muito sono e agora para o final muita azia.
Não fossem as preocupações com ela e teria sido uma santa gravidez como sempre desejei.

Espero daqui a 24 horas, ou menos, já a ter nos meus braços.

Apesar dum receio que julgo ser normal, quer durante a gravidez quer agora nesta fase final, sempre acreditei que um milagre tem de ser milagre até ao fim e por isso que tudo iria correr bem.

Não posso no entanto deixar de agradecer a todos os que fizeram parte desta caminhada, e que a tornaram mais leve.
A quem me aturou dando dicas, conselhos, ou apenas um ombro amigo, quer tenha sido presencialmente, por telefone ou virtualmente, o meu muito obrigada.