terça-feira, novembro 22, 2011

16 semanas e 6 dias

Realmente eu tenho imensas histórias para contar aos netos sobre as minhas consultas.
Hoje foi a consulta de hematologia.
Esta sra vem da consulta de endocrinologia.
Não, venho da consulta de obstetrícia.
Nós aqui não temos obstetrícia...
Pois, mas a maternidade tem...foi daí que eu fui reencaminhada...
Ahhh pois é, diz aqui na requisição da consulta...

Bem, como cheguei 8h40m às 9 hora da consulta já estava despachada...

Então este é mais ou menos o resumo:
- tenho duas mutações mas nenhuma está associada a trombofilias, mas o relatório diz que teoricamente pode haver risco na combinação das duas. A médica entende que não. E que os laboratórios analisam todas e só deviam analisar as das trombofilias...
- pela médica posso parar com o cartia, mas como os obstetras gostam do cartia, deixou à minha consideração sendo que duas semanas antes do parto devo parar.
- começou a falar dos custos para o Estado de certos exames que nada provam, e eu falei da repetição de análises a que sou sujeita nos mais diversos hospitais, quando devia haver um sistema que os médicos consultassem tudo...falámos de lupus...e ela que não tinha o meu processo voltou atrás. Dado que o lupus se pode manifestar a qualquer momento da gravidez, será conveniente continuar a tomar, e caso ele se manifeste poderei mesmo ter de tomar algo mais "forte" que o cartia para evitar risco de aborto.

E ficámos assim, continuarei a tomar o cartia até 2 semanas antes do parto.

quinta-feira, novembro 10, 2011

15 semanas e dois dias

Depois do rastreio bioquímico cujo resultado soube na 2ª eis que fui hoje ao centro de saúde. - tensão boa - peso bom, aumentei 1,4kg desde que soube que estava grávida (em 2 meses)... - não tenho nenhuma infecção - ouviu-se o coraçãozito (da última vez não foi possível ouvir, realmente estes aparelhos são menos sensíveis)

- vou tomar vacina da gripe, este ano mais tarde que o normal, mas conto tomar ainda hoje

- levei nas orelhas por causa da ingestão de água, tenho mesmo que beber 1,5l...eu que sempre bebi mais que isso agora não consigo...estamos bem estamos.


E é tudo, volto ao centro de saúde dia 22/12...só para me atrasar o Natal... Beijinhos

segunda-feira, novembro 07, 2011

Vou ser mãe, só não sei ainda quando nem como...

Vou ser mãe, só não sei ainda quando nem como...
Esta frase foi criada ao longo dos anos e da minha caminhada pela infertilidade.
Em 2006 quando nos informaram que dificilmente seríamos pais pelos métodos convencionais, percebi que a caminhada rumo à maternidade poderia ser mais longa do que o previsto.

Assim criei o lema: Vou ser mãe, só ainda não sei quando.
Comecei a frequentar o fórum da associação e depressa me dei conta que esta caminhada pode ser mais ou menos curta sem que se perceba muitas vezes o porquê.
No nosso caso havia dois motivos: feminino e masculino.

Em Maio de 2007 fiz 3 anos de casada e "informei" o meu marido, que se dali a um ano não estivesse grávida queria dar início ao processo de adopção.
Como por essa altura em 2008 estava prestes a iniciar tratamento, adiámos a entrega dos papéis para Outubro, e eis que a frase ficou completa e imutável: Vou ser mãe, só não sei ainda quando nem como...
Ser mãe é mais do que carregar um filho na barriga e acima de tudo é criá-lo, dar-lhe amor, prepará-lo para ser adulto, um adulto com valores e de valor para a sociedade.

Toda a gente diz: quando um casal se inscreve para a adopção fica mais descontraído e acaba por engravidar....eis um grande mito.

Mas nisto da infertilidade o que não faltam são mitos: se fores de férias engravidas, se relaxares engravidas, se desistires engravidas...
O certo é que todo o casal infértil anseia mais ou menos secretamente que o milagre ocorra e que o tão desejado filho surja da forma mais natural e expontânea.

Ao fim de 7 ICSI´s falhadas, onde apenas consegui chegar a 3 transferências esse desejo acaba por parecer algo lunático.
Confiamos na medicina e no que ela nos pode dar, pensamos em alternativas diferentes dentro da medicina.

Após ter feito tratamentos em dois centros públicos, eis que tive alta e só me restava o privado.

No mesmo dia em que me foi dito: só há um embrião e que não pode ser transferido, marquei consulta para uma clínica privada.
Estavamos no dia 14 de Julho e obtive marcação para 6 de Setembro.

Entretanto voltei ao trabalho, tentei abstrair-me o mais que podia.
Tinha poupanças para realizar apenas dois tratamentos no privado.
Todos os dias éramos confrontados com más novas da economia, austeridade e mais austeridade, impostos atrás de impostos.

Sempre fui irregular nos ciclos menstruais, e os mesmos sempre foram longos, mesmo após o drilling. Desta forma não foi com surpresa que atingi uma semana de atraso.
O meu sistema nervoso só podia estar a pregar-me mais uma partida.
E eis que 3 dias antes da consulta no privado encontrava-me no 40º dia do ciclo e resolvi dar uso a um teste de gravidez que ainda andava aos tombos lá por casa.

Não estava de férias, não estava relaxada nem tinha desistido do meu sonho!

3 de Setembro de 2011 - duas risquinhas, embora uma muito ténue
- Achas que é mesmo positivo?
- Sim, ou estou no início da gravidez, ou estive grávida e não evoluiu, mas foi detectada a Beta HCG.

Nesse mesmo dia fui à farmácia e pedi o teste com mais sensibilidade que houvesse. Dado que eram todos "iguais" acabei por comprar o da clearblue, que daria em caso de positivo alguma previsão das semanas de gravidez.

4 de Setembro - 2 a 3 semanas deste a concepção, ou seja 4 a 5 de gravidez.
Era domingo...laboratórios fechados...teremos de aguardar por amanhã.

5 de Setembro - DOIS MIL CENTO E NOVENTA E QUATRO

Estava finalmente confirmada a gravidez.
Mas quem conhece estas andanças sabe que ainda falta saber muita coisa, pelo que era importante fazer uma ecografia, ver se o embrião estava no útero, se o coração batia...
Desmarquei consulta no Dr. Alberto Barros e marquei para o primeiro obstetra que faz parte da equipa e que se encontrava livre.

12 de Setembro - acordo com perdas.
Fui à MJD, 5 semanas e 6 dias. Um embrião no útero.
Apesar das perdas respiro de alívio.
É só um e está onde deveria estar.
Recomendação de vida calma, mas continuando a trabalhar e que tome o utrogestan à noite.

13 de Setembro - consulta com médico de família.
Boletim de grávida e no final da consulta o médico diz-me que se o meu trabalho é stressante, se carrego pesos para ponderar a baixa.

15 de Setembro - há vida em "marte"
Na consulta com o Dr. Teixeira oiço pela primeira vez o coração do meu bebé, 129bpm. Estarei de mais um dia que o previsto.

22 de Setembro - consulta na MJD
Dado o meu problema de tiróide tenho consulta de endocrinologia e sou reencaminhada pelo médico para a obstetrícia.
Passei a manhã na maternidade para ter uma consulta, corrida para o trabalho e eis que ao fim do dia volto a ter perdas.
Decidi descansar a ver se passava.

23 de Setembro - urgência na MJD
As perdas continuam, sou vista pela mesma médica das urgências, estou de 7 semanas e 4 dias.
A médica trata-me pelo meu nome e diz: vai ouvir pela 1ª vez o coração do seu bebé.
Apesar de ser a 2ª vez, saber que ele está vivo, que está a resistir emocionou-me e abro literalmente a torneira.
É-me dito para manter a calma, continuar a trabalhar e manter a mesma dose de utrogestan.
Chego a casa e ligo de imediato para o trabalho onde informo que irei ficar de baixa.
O médico de família acabaria por me passar baixa normal.

29 de Setembro - consulta na MJD
Sem eco, sinto alguma falta de confiança na médica, mas foi a que me calhou.
Marca-se eco do 1º trimestre para 20 de Outubro e irei ter ainda consulta de hematologia e de diagnóstico pré-natal.

Perdas a 30/09; 03/10; 06/10 perdas contínuas a 08 e 09 de Outubro.
Recusei-me a ir para as urgências, esperar horas sentada para me mandarem colocar utrogestan e descansar...

11 de Outubro - consulta no privado
Ia de coração nas mãos, mas segundo o médico fiz o que devia ser feito repouso e utrogestan.
Tanto pode acontecer a natureza decidir algo contrário apesar dos meus cuidados, como continuar a ter perdas e não ser nada demais para o bebé.
Após as medições, estou de 10 semanas e 2 dias, e o meu pequenito fartou-se de dar aos pés: mãe, acalma-te lá, oh pra mim aqui tão activo.

20 de Outubro - consulta de endocrinologia, obstetrícia, ecografia do 1º trimestre e análises para rastreio bioquímico
A ecografia foi muito dolorosa, dado que o bebé apesar de se mexer muito não saía da mesma posição e que dificultava as medições.
Aqui a menina teve de levar muita pancada para ele fugir para um local mais visível.

O comprimento da cabeça ao rabo deu: 46,3mm o que apontaria para 11 semanas e 4 dias, e coincidiria com a previsão anterior.
No entanto, no final o resultado foi 12 semanas e 2 dias.
O diâmetro bi-parietal é de 17,2mm e a TN que me estava a stressar foi de 1,1mm, muito longe do limite de 2,5mm que poderia indicar alguma trissomia.
Foi ainda possível detectar os ossos do nariz.
Fiquei mais aliviada, mas apenas o rastreio integrado me irá dizer se devo ou não arriscar a amniocentese.

07 de Novembro - consulta de Diagnóstico Pré-Natal 1/998, decidimos não fazer amniocentese.
O valor a partir do qual se recomenda é 1/250, pelo que estamos muito acima dessa recomendação.
Uma em cada 998 gravidezes tem a probabilidade de trissomia 21, já para a trissomia 18 o risco é < 1/10000.

Continuo de baixa por gravidez de risco, e não sei até quando nem mesmo se regresso ao trabalho antes do parto.
Dia 20 de Dezembro terei a ecografia e consulta das 20 semanas, espero que os sustos tenham terminado e poder começar a sentir-me cada dia mais grávida.

Só agora tenho coragem de contar ao mundo que estou grávida. As pessoas que me foram acompanhando, perguntando pela consulta no privado, questionando o meu silêncio acabaram por ser informadas e a todas pedi segredo.
Neste momento é oficial: estou grávida e muito feliz.

Vou ser mãe (os obstáculos serão ultrapassados e vou conseguir)
só ainda não sei quando (mas prevê-se que seja no dia do trabalhador...mais um touro cá para casa)
nem como (mas nada melhor que da forma mais natural possível, e que todos os casais deveriam conseguir).

Ninguém devia passar pela infertilidade.
Essa parte da minha história não pode ser apagada, nem sequer com uma gravidez expontânea, mas é muito bom saber que os milagres não acontecem só aos outros.
E para aqueles que um dia nos acharam loucos por continuar a acreditar (e eu já não acreditava na natureza, mas apenas na medicina) só resta dizer: eu acredito.

Beijinhos