sexta-feira, maio 20, 2011

A minha avó materna

Há pessoas que condicionam a nossa vida ainda que possamos nunca as ter conhecido.
Pelos seus pequenos ou grandes feitos, pelo seu contributo para a história da humanidade ou para a nossa história familiar é impossível deixarmos em branco a sua vida.

A vida da minha mãe, tio e avô sofreram uma reviravolta, quando a 20 de Maio de 1961 a minha avó materna faleceu. Faz hoje precisamente 50 anos.

Faleceu aos 36 anos, após 3 anos de cancro de mama e deixou uma filha de 9 e um filho de 6.
Mulher forte, defensora da sua família e ideais, sonhadora mas com os pés assentes na terra.
Foi o grande amor do meu avô, que nunca mais voltou a casar.
Foi ainda por causa dela que vi o pesadelo em que a minha mãe viveu, e ainda hoje vive, com medo desse bicho-papão que lhe levou a mãe tão cedo.

São inúmeras as histórias que me chegaram dela.
Consta que somos parecidas não apenas fisicamente, mas acima de tudo no feitio.
Sempre gostei de ouvir o meu avô falar dela, de pequenos episódios que diziam tanto sobre a sua personalidade.

Gostava de tê-la conhecido, ver se realmente o que as pessoas dizem corresponde, mas acima de tudo que a vida de gente que tanto amo tivesse sido mais fácil.

domingo, maio 15, 2011

19 anos

Conta quem presenciou que com seis meses eu não queria mais ninguém por perto se estivesse na presença do meu avô.
Palrava imenso com ele e chorava se alguém interferisse.
Eram as nossas conversas, e pelos vistos entendíamo-nos na perfeição.

E foi assim durante 19 anos.
Foi a pessoa da minha família que mais me marcou, pela sua história de vida, pelo seu testemunho mas sobretudo pela forma de estar na vida.

Era o meu avô preferido e eu a neta preferida.
Não tínhamos de dizê-lo, estava na cara de quem nos via.

Tive a sorte de ouvir da sua boca, um ano antes da sua morte, o quanto me amava e como eu era especial.
Algo que temos sempre dificuldade em transmitir a quem amamos.
Um ano depois recordei esse dia para acalmar as saudades.

Faleceu no dia a seguir ao meu 19º aniversário, portanto acompanhou de perto a minha adolescência, alguma rebeldia, e forma intransigente de ver as coisas.
Mudei alguma coisa depois disso, a vida molda-nos, e a sua frase sobre a vida ser demasiado curta ajudou a colocar tanta coisa numa perspectiva totalmente nova.

Faz hoje 19 anos.
É impossível não pensar que amanhã terei mais tempo de vida sem avô do que com ele.
19 anos com avô….19 anos sem ele, e a falta que me faz e a tanta gente.

Ainda hoje não consigo ouvir a sua música preferida sem me virem as lágrimas aos olhos, pela recordação que me traz e pelo nome “Oh tempo volta para trás”.

sábado, maio 14, 2011

38 anos

Pois é 38 aqui estão eles.
É inevitável não fazer contas de cabeça, quando nos dizem aos 35 a fertilidade baixa, aos 38 cai a pique.
Mas espero que estes 38 me possam trazer a concretização dum sonho há muito acalentado.

segunda-feira, maio 09, 2011

Um ano depois

Há um ano estive presente num almoço no restaurante duma amiga, e com uma série de casais infertéis.
Uns com filhos, outros sem filhos.
Eis que ontem voltamos ao mesmo local, e duas das minhas amigas já são mães.
Foi uma tarde fantástica, em que estive com os meus novos sobrinhos ao colo, e adorei quando ouvi: quem diria há um ano que hoje estaríamos aqui com os nossos bebés.

Espero que daqui a um ano, no mesmo sítio "à mesma hora" possam as 3 meninas que continuam a tentar levar os seus rebentos.

Actualização sobre a minha avó

Obrigada pelos comentários sobre a minha avó.
Ela está a adorar estar lá, no sábado liguei-lhe e perguntei como estava a correr: MUITO BEM.
Fala-me das amigas que não conheço, doutra senhora que a desafia para ir passear, da comida que é muito boa e de como são todos bem tratados.
Enfim, espero que o ânimo continue.

Tenho muito receio que lhe passe, mas o facto de ter sido uma decisão dela, foi uma grande ajuda.

Aquilo tem lar e centro de dia, mas ela optou pelo centro de dia. Sai de casa às 8 e volta às 19.
Está no seu meio, na sua casinha, ao fim do dia tem a visita das amigas que moram na rua... e depois vai deitar-se porque anda podre de sono: ))))

quinta-feira, maio 05, 2011

Um lanche simpático

Há pessoas que nos marcam.
Quando vim para o Porto não tinha amizades, havia os amigos do meu marido, mas não era a mesma coisa.
Hoje já não os distingo, mas no primeiro ano foi um momento de afirmação e fiz algumas amizades.
A mais antiga das quais ajudou-me imenso a passar o tempo, a ter um novo hobbie..sei lá: )))

Essa amiga foi mãe em Janeiro, e eis que fui conhecer a menina dela.
Linda, e a querer falar com a tia, palrando palrando.

Não sei se a minha amiga vai passar por aqui, mas adorei o lanche, e registei e adorei a última frase:)

domingo, maio 01, 2011

Velhice e solidão

Há coisas que na vida me incomodam, as condições em que podemos ter de viver, a falta de dignidade, de respeito e de autonomia.

Assusta-me pensar como será a minha velhice, e incomoda-me ver como os velhos são tratados, e sim são velhos, não são idosos. Idosos soa-me sempre a excesso de idade, como se já cá não devessem estar.

Dos 4 avós, apenas conheci 3 e só uma está entre nós.
A minha avó materna faleceu aos 36.
O meu avô materno aos 67 após doença subita faleceu no hospital.
O meu avô paterno aos 84, faleceu ao fim de 4 meses após o diagnóstico e tendo passado 2 meses internado.

A minha avó fez no mês passado 91 anos. Sempre reagiu muito mal à ideia de ir para um Lar.
Nunca ninguém pensou que resistisse tantos anos, nem ela.
Faz hoje 25 anos que estava a enterrar o 2º filho que tinha 33 anos, e ninguém acreditou que lhe resistisse.
Doze anos depois ficou viúva, e nunca quis ir morar com os meus pais, porque ficava longe da terra.
Há uns anos contratou uma vizinha para as limpezas e comida.
Mas...a solidão era muita, e eis que ao completar 91 anos decidiu ir para um centro de dia, onde fará a higiene, as refeições e convivirá com outros velhotes (todos mais novos que ela, lol). Ela que nunca quis ir para o meio de velhos, vai para o meio de novos.
Vai começar amanhã, espero que corra tudo bem, que se sinta bem.

Pessoalmente não gostei do que vi, uma sala na penumbra, com TV ligada e muitos velhotes meio sentados meio deitados a dormitar.
Ela gostou: tudo limpinho, pessoal simpático, e muitas amigas.

Eu continuo a sonhar com um dia em que me saia o euromilhões, de criar um espaço para avós e netos, tipo uma quinta para lar e infantário, e com muitas actividades que lhes agradem e que não sintam que é uma ante-câmara da morte:(